27.9.10

Lugar de compras

Sempre detestei shopping centers, muito antes de odiá-los pela sua representação absoluta de capitalismo puro e sincero. Devo odiá-los desde os seis anos de idade quando eu tinha que presenciar as mulheres da minha família praticando aquele consumismo absurdo.

Até se ter tudo nunca se é livre de querer sempre mais, e as coisas que de fato nós não precisamos tornam-se necessárias, ou pelo menos as pessoas julgam que sejam necessidades pra ter uma desculpa própria pra adquirir coisas que não precisam.

Coisas como camisetas caras, tênis, sapatos, produtos supervalorizados que foram feitos pelas mãos de operários de vidas precárias, em algumas marcas até mesmo crianças trabalham na linha de produção. É ai que jaz a questão tragicômica dos lugares de compras. Enquanto alguns sofrem na confecção material, os materialistas riem ao comprar.

A verdadeira alegria em adquirir um produto de marca, costumava ser um sentimento que para mim só os otários podiam ter. Jurei nunca me relacionar com pessoas assim e paguei minha língua. Se a vontade de consumir faz uma sociedade toda de idiota, como apenas uma garota pode ter feito uma tola de mim mesma?

Vesti a camiseta Nike que estava no fundo do meu guarda-roupa, mamãe me deu de presente, acho que ela realmente se parece com a garota do shopping. Não me senti mal dentro de um , pelo contrário, eu me sentia confortável – apesar de culpada – em procurar coisas que lhe agradariam, desejando poder comprá-las um dia. Escolhi até uma aliança de noivado, aquela que se pudesse noivar comigo eu compraria, mas o absurdo do preço me faz pensar que alguns casamentos devem acabar antes do individuo acabar de pagar a aliança, mas eles não ligam, eles não pensam, eles estão apaixonados, são os verdadeiros românticos panacas capitalistas.

Até mesmo aquilo que eu considerava extremista e ortopedicamente errado eu pensei em comprar praquela garota, mas nada a faria retornar, nem o sapato rosa choque que ela tanto desejava faria ela olhar pra trás (ou pra frente) e ver minha imagem de novo. Sentada na praça de alimentação percebi na companhia do meu whisky com chá verde de que talvez eu me sentiria bem em lugares de compras até deixar de amá-la.

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