13.4.11

Meu Picadeiro

Se hoje me escondo nos lugares que eu amava compartilhar é porque ontem me extraíram o prazer de toda e qualquer companhia. Agora os dias amanhecem como todos os outros, mas o mesmo lugar reflete uma nostalgia insuportável, uma manhã ensolarada como qualquer outra na Londres do ABC marcou o começo do final do meu mundo. Pelo menos o mundo como eu conhecia.

Antes só do que mal acompanhada nunca fez tanto sentido, de certa forma fico melhor sozinha, penso e produzo melhor quando me fecho e agora eu tranquei todas as minhas portas, ninguém, é convidado a entrar no meu quintal, nem se espalhar na minha sala de estar, muito menos deitar na minha cama.

Só se pode andar de olhos fechados quando temos alguém olhando por nós, portanto eu abri os meus e se pudesse colocaria um terceiro nas minhas costas pra olhar bem pra cara daquele que me esfaqueia por trás.

Minha barreira se transformou em uma muralha, um muro mais triste que o de Berlim. Estou exausta de buscar em vão distanciamento de todas as coisas das quais preciso me afastar, não falo de um conjunto especifico de pessoas, até porque não é só do mundo que eu quero me separar, é também de mim mesma, do meu eu-lirico, da confusão dos meus dias...

Preciso encontrar minha racionalidade de volta, poderia salvar meu mundo somente resgatando meu lado lógico, me esquivar fria mesmo quando a vontade for outra, simplesmente porque racionalmente é melhor pra todos nós

Todas as coisas que foram feitas e ditas não vão se retirar da minha cabeça, mas por cortesia elas poderiam ficar bem longe do meu coração. Inclusive eu merecia um botão de liga e desliga no meu coração, mas em troca das minhas gentilezas, cavalheirismos e tentativas de ser politicamente correta eu ganho o oposto da bondade.

Se fosse assim tão fácil desligaria também minha consciência, ela é a única razão pela qual a culpa me corrói todos os dias. No começo do fim do mundo eu abri os olhos pra realidade, percebi que está na hora de fechar esse circo todo, esquecer que já fui malabarista, pois agora sou palhaça e tenho que tirar a maquiagem branca da minha cara, limpar esse pó todo e virar herói do picadeiro pra salvar o que de bom restou em todos nós.

Com muito peso é difícil seguir caminhando, te vejo passar de longe e de você é tudo que eu vou ver por um bom tempo, ainda que continue sempre olhando por ti, rezando sem saber rezar, me preocupando... De longe, assim é que vai ser. O máximo que eu consigo fazer agora é dividir de olhos abertos um cigarro no bosque, tentando não lembrar que eu disse todas as coisas que nunca deveria ter pensado nem sentido. É hora de sacudir a poeira, limpar os cartões e proteger a mocinha das minhas poesias, de olhos bem abertos e corpos bem distantes.

12.4.11

Rome

O amor fode a todos nós, nos faz perder a cabeça e às vezes mesmo que seja errado, ele nos deixa a deriva de emoções antes impensáveis. Emoções irresistíveis das quais eu gostaria de me ausentar, se eu pudesse agora expulsaria de mim toda minha capacidade de amar, mandaria pra Marte, naquele pedaço laranja de terra onde não tem nada, nem ninguém!

O problema é que eu sou muito covarde pra não te amar e corajosa demais por na maioria das vezes tentar te resistir. Uma vez alguém me disse que eu era uma iludida, a partir desse dia eu peguei todas minhas ilusões platônicas e todas as minhas vontades carnais e os coloquei em um potinho. Escondi tão bem o tal do potinho que agora não consigo achar forças pra acreditar nas coisas que eu ouvi. Se o amor é algo tão bom, como ele pode trazer tantas coisas ruins? Como poderia ser tão errado assim amar alguém que se conhece tão bem?

O amor é uma caixinha de bombons sortidos: nele existe carinho, respeito, afeto, vontade de fazer o bem, assim como também existem as traições, desconfianças, ciúmes e por fim uma tristeza desgastante. Meu amor tal como sua origem é tão dúbio quanto uma espada de duas faces, te amo carnalmente quando sinto vontade dos seus beijos, te amo amigavelmente quando quero sempre o melhor pra você, e por saber que não sou eu me calo como um herói que prefere o bem dos outros a sua própria felicidade.

Confusão, álcool e nicotina são as palavras do dia. O primeiro porque minha cabeça foi vasculhada e vandalizada pelas suas perguntas, meu coração foi prensado contra a parede até que ele cuspisse todas as verdades pateticamente poetas em mim. Lembrei-me de um conto do André Giusti chamado Álcool e Nicotina, no inicio eles se gostavam muito, mas depois começaram a se conhecer melhor e tudo foi por água abaixo. Mario bebia demais e Marion fumava demais. Um dormia com o bafo do entorpecente do outro, e o amor não foi suficiente pra driblar a rotina nem pra tolerar os defeitos alheios.

Relacionamentos são feitos de concessões, há de se ser paciente pra merecer um bom romance, há também de se tomar cuidado com quem se ama. Dessa vez o feitiço virou contra o feiticeiro e eu senti a traição que eu mesma cometi, minha sorte é ainda conseguir acreditar que esse amor era muito forte pra terminar, não perdi uma amiga, mas eu perdi sua confiança. Estar do outro lado me dá uma perspectiva melhor, eu trai por amor, mas ela me traiu pela carne. Uma carne que ela jurou não querer nunca mais, a carne que ela sabia que eu amava, o pior de tudo é que eu teria feito de tudo pra entender, se ao menos a sinceridade tivesse nos cercado, mas eu acho que esta se escondeu junto com meu potinho das esperanças, ou apenas se ausentou pra ser despejada por completo de uma só vez em cima de mim.

Queria poder fechar os olhos e quando olhar pra trás não me sentir uma completa panaca, como se tudo tivesse sido um pesadelo ou um sonho, mas agora todos os detalhes brotam na minha imaginação, ela costumava dizer que eu era uma das pessoas mais inteligentes que ela já conheceu, se é real como eu pude ser tão burra, tão cega? Acreditar sempre no melhor das pessoas foi um puta erro do caralho e eu infelizmente estou começando a aprender a lição do jeito mais difícil.

O vermelho no olhos do meu pai, sua ira e violência me atormentaram por uma imprudência, uma vontade de tentar desenrolar o enrolado, foi um tiro que saiu pela culatra, um tiro no escuro sem imaginar nenhuma reciprocidade, a surpresa e a dificuldade de acreditar que era correspondido. Talvez eu nunca consiga acreditar, talvez eu tenha criado uma barreira enorme pra me proteger desse sentimento absurdo, porque todos nós sabemos que de alguma forma a partir de hoje nada será igual, minhas lágrimas provavelmente vão rolar até me secarem, não porque eu quero, mas porque eu não conseguiria segurar tanto choro mais uma vez. O ciúmes vai me comer viva, um dia vai extrair todas minhas qualidades e nesse dia eu vou estar livre, verdadeiramente livre do peso que é amar.

7.4.11

Jedis me ajudem

Meu quarto é uma representação do que eu sou. Tudo é bagunçado e confuso, os livros jogados no chão, meus projetos, meus tantos projetos que eu nunca terminei me assombram na estante. Comigo sempre foi assim. Quando aparecia uma nova paixonite então as folhas ficavam passadas, cheias de antigos sentimentos. Eu nunca os jogo fora, essas minúsculas partes de amor, se um dia eu não mais ter a capacidade de amar, pelo menos eu poderia ler e lembrar que um dia eu amei alguém. É tão raro quando me dão tempo e oportunidade de terminar um capitulo inteiro, o tempo nunca é suficiente.

Eu olho ao redor e tudo está ao contrário, na minha analogia particular eu estou ao contrário, sou hoje o inverso do certo sonhando em melhorar, sou uma romântica pra dentro, não pra mim mesma, mas pra todos os meus platônicos... ah meus platônicos como sou romântica por vocês. No entanto até no romance estou ao avesso, com todas as palavras bonitas que eu nunca digo, as boas intenções que eu nunca mostrei.

Agora minha vida esta tão bagunçada que eu nem sei como começar a consertar, não sei se eu desviro primeiro minha cabeça, meu coração ou meu dia-a-dia. Não consigo decidir, não consigo chegar a tempo. Acho que é isso que eu sou: uma romântica patética que está sempre atrasada, como na hora de salvar uma bela donzela e ter a incrível capacidade de estragar tudo. Meu cavalo é manco, meus dedos são tortos e meu olhar se tornou triste. Talvez eu não seja

qualificada pra resgatar nada, pelo menos não até me encontrar.

Já me encontrei algumas vezes, mas me perdi muito mais do que fui encontrada, é como se o dia todo eu corresse de mim mesma, tentasse me esconder, o famoso escapismo, no final das contas nunca dá certo, eu sempre sobro com meus pensamentos, dos quais eu fujo o dia todo. Talvez seja hora de encara-los, eu preciso encarar e mudar alguns aspectos da minha vida, do contrário como já diria o grande Obi Wan Kenobi: eu talvez sucumba ao lado negro da força.

4.4.11

Bianca

Quando eu tinha seis anos aprendi a desconfiar, morava na casa da minha avó e lembro bem que desde que me conheci por gente tínhamos a gata mais bonita do mundo. Bianca era uma siamesa e além de ser linda também era muito boazinha. Foi meu primeiro bicho de estimação, mamãe sempre me dizia que a Bianca dormia no meu berço toda noite e que quando eu chorava a gata não descansava até acordá-la.

Então eu era uma criança magrela e feliz que amava pra caralho sua gata gorda, mas como nem tudo são flores um dia a Bianca sumiu, e foi aquela a primeira vez que eu conheci a tristeza. “Ela fugiu!”. Não era suficiente pra mim, mas eu não recebia nenhuma outra explicação. A única pessoa da minha casa que tinha se abalado tanto quanto eu ou mais com aquela ausência era minha avó, ela acima de todas as pessoas passara mais tempo com Bianca.

Eu não me lembro exatamente como foi, não sei se me contaram ou se eu descobri sozinha, o fato é que eu era muito nova pra ser atingida pela verdade. Digo atingida porque algumas verdades são tão difíceis que mais se parecem com socos no estômago, essas nem deveriam ser ditas. Poderia ter vivido pra sempre achando que a Bianca tinh

a fugido ou se perdido, mas a verdade é que minha avó a tinha atropelado sem querer.

Lembro-me que o mundo começou a abrir embaixo dos meus pés, eu me sentia traída e repentinamente entendi o conceito da desconfiança. Minha avó por sua vez ficou duplamente triste, por ter matado a gata que adorava e enganado a neta que amava. Demorou anos pra eu perceber que não teria feito diferença saber ou não. A verdade ou a mentira não iam trazer a Bianca de volta, e a confiança em vovó voltou depois de alguns meses e uns pratos de sopa de feijão com macarrão de letrinha. Só me lembro de ter tido um conflito tão forte com ela anos depois, quando descobri que ela era palmeirense.

O mais irônico é que agora a pessoa que eu mais amo no mundo é uma palmeirense, a melhor que eu já conheci. Fazendo um paradigma entre as duas situações, dessa vez eu seria vovó. Fui eu quem estraguei tudo, perdi a confiança, as estribeiras e em um ato irracional me afoguei naqueles pares de pernas e aceitei que eu estava sendo uma completa babaca.

O que eu matei aquele dia foi minha vontade de trepar – sem sentimentalismos pelo menos uma vez na vida -, o que eu matei aquele dia foi minha necessidade de provar pra não sei quem que tava na hora de deixar de ser a nerd idiota do pedaço, eu matei também qualquer raspa de moral e ética que residia em mim, em resumo quem morreu aquele dia fui eu, pelo menos aquela que você conheceu, mas o que eu estou tentando fazer é você gostar do que me tornei, o que é muito difícil porque nem eu mesma gosto. E o que me enfurece cada dia mais é saber que essa ponte quebrada está nos matando aos poucos agora.

A confiança era a base do nosso relacionamento, você sempre conheceu minha má sorte e toda vez que ela me atingia era em você que eu procurava conforto. De alguma forma você era meu parâmetro de ser humano, um modelo a ser seguido, aquela que eu amei como minha melhor amiga por te achar a melhor pessoa. O mundo é um lugar mal freqüentado e tudo que eu desejava pra melhoria do mesmo era que existissem mais pessoas como você. Como já diria o Abujamra “O mundo ta muito doente, tem homem que mata, tem homem que mente”.

Quando meu mundo fica doente eu sei que no final do dia você consegue dar um jeito de remediá-lo e viver sem seus medicamentos me parece impossível.

Eu sei como é a sensação de não conseguir mais ter fé nas pessoas, também já me magoaram a ponto de sugar minha capacidade de ter fé. Essa é a coisa mais triste que se pode acontecer com um nobre coração, o meu doeu muito quando te ouvi dizer que não confiava em mais ninguém. E acima de todas as coisas é por isso que eu mais sinto em toda essa confusão, eu sei que vamos sobreviver de um jeito ou de outro, mas eu não suporto conviver com o fato de ter contribuído com sua perca de esperança no mundo.

Assim que você encontrá-la de volta por favor divida comigo brother, porque algo dentro de mim continua me dizendo que nós somos especiais demais pra desaparecer, se perder ou morrer como minha primeira gata.

17.3.11

Reflexões filosóficas sobre o sucesso

O termo pessoa bem sucedida é definitivamente relativo, isso porque o sucesso depende do ponto de vista de cada um. Depende do quão longe o individuo pretende chegar tanto intelectualmente, quanto financeiramente. Não se mede a riqueza de um homem pelas suas posses, mas sim pelas suas idéias e por seu caráter, além do que nem todos almejam ficar ricos, alguns consideram mais importante focar-se em outras coisas que não seja o trabalho, e por exemplo se para esta pessoa ser bem sucedido significa ter uma condição mediana de vida, no entanto poder passar tempo de qualidade com sua família esse sujeito vai ser bem sucedido pelo ponto de vista dele. E isso é o mais importante, não é porque uma pessoa não tem um salário alto ou uma casa de campo, que ela é menos bem sucedida daquelas que têm estas coisas.

Em resumo cada um tem seu próprio senso de sucesso, mas todos nós estamos sempre a procura da mesma coisa: felicidade. Não importa quanto ela custe, porque pra algumas pessoas a felicidade é encontrada gratuitamente, não perder as coisas boas na vida é ser verdadeiramente bem sucedido, somos todos heróis de nós mesmos quando colocamos o pé pra fora de casa e vamos atrás daquilo que sonhamos. Com esforço todos nós temos de realizar os planos que constroem os caminhos certos para o sucesso, e por sucesso eu digo em um plano geral, objetivando encontrar o equilíbrio que nos levará a plena felicidade.

27.2.11

Muitas felicidades, muitos ânus de vida

Finalmente eu cheguei aos dezenove anos e isso não faz a menor diferença, idade pífia, sem graça. Queria ter vinte, trinta. Queria viver na época de sessenta, mas não tive sorte nem nisso. Nasci no tempo errado, até nisso eu me atrasei. Que bom seria se minha vida fosse como no meu ideal universo paralelo, toda vez que eu quase o alcanço a realidade vem me despertar e nunca é de uma maneira sutil.

Turbilhões de pensamentos e sentimentos me assombram o tempo todo, diferente dos jovens de hoje em dia eu simplesmente não consigo libertar minha mente e meu corpo, eu não me permito deixar de ponderar nem por um segundo, não funciono como os outros e me sinto a cada ano que passa cada vez mais extraterrestre. Estou sempre pensando, sentindo e de que adianta se nada falo nada faço? Meus amigos sempre me dizem que eu sou insegura, mas como eu poderia não ser se não faço parte de nada importante, não contribuo pra nada que vai durar pra sempre, eu não fiz nada grande, no entanto tive meus projetos, tantos projetos dos quais eu abandonei porque a emoção tinha passado, o momento tinha passado por mim e como minha juventude eu nem mesmo reparei.

Por isso eu acredito que todo momento especial precisa ser capturado de alguma forma. N

ão quero esquecer meus dezenove, por sorte eu não tirei nenhuma foto e pra ser capturado meu momento poderia apenas ser escrito, palavra por palavra nesse lindo sábado de manhã onde todos os meus amigos estão dormindo, enquanto eu fico pensando qual é o grande plano pra mim?

Eu já devia ter aprendido que eventos no facebook nunca são bons pra nada, eu sempre acabo me ferrando com eles, o tal de maratona de aniversário não poderia ter sido diferente. Eu decidi entrar no espírito da coisa, e por coisa eu digo a idéia fixa das pessoas sobre me travestir. Juro que fiz meu melhor, quando tive vontade de chorar não chorei porque lembrei da maquiagem, e quando tive vontade de fugir eu percebi que não gosto de sapatos altos porque eles não são bons pra fugas. E eu quero correr o tempo todo, fugir, esquecer, nada disso é possível com aquela dor insuportável no pé. Digo que por sorte não tive fotografias porque elas seriam catastróficas, se eu fosse capturar o exato momento em que eu cheguei em casa eu acho que aquela seria a foto da minha vida, eu não sendo eu num estado deplorável, as botas em uma mão, as meias pretas de sujeira, a camisa queimada, o joelho todo fodido estropiado e o lenço que eu escolhi tão carinhosamente tinha mostrado todo seu tamanho porque eu me cobri como um manto. Graças a Deus ninguém estava aqui pra me recepcionar, eles nunca estão.

Meu azar conseguiu se superar no meu dia especial. Começou com a minha avó se esquecendo que há dezenove anos eu tinha nascido, eu esperava acordar com abraços e beijos, mas tudo o que eu recebi foi um “acorda logo que você está sempre atrasada”. Presumindo que o dia seria bom pela sua premissa eu peguei minhas coisas e fui embora afinal eu estava atrasada pro nada, e o nada parece sempre estar atrás de mim. Conheci novas pessoas das quais nunca lembrarei o nome, e que nunca saberiam que aquele era meu aniversario, praticamente o primeiro aniversário que eu comemorei na minha vida. Todos os anteriores caíram muito perto do carnaval pros meus amigos não estarem viajando e no ultimo é claro eu passei numa cama de hospital com dengue, mas não aquele, aquele eu jurei pra mim mesma que eu faria de tudo pra superar, pra ser o melhor possível e olha no que deu: Voltei pra casa pobre, sem cigarros, sem fome, sem sono, voltei pra casa sem nada, me sinto um zumbi, com ausência de vida e excesso de histórias, voltei sem peso, sem medo, sem qualquer consideração comigo mesma, eu acho que deixei tudo nas paredes daquele losango colorido. Definitivamente algo se perdeu em mim e eu pensei que em aniversários nós só ganhávamos, eu perdi a mim mesma e não consigo achar em lugar nenhum.

Deveria ter sido diferente, minha avó não deveria ter me ligado pra dizer as coisas que disse, uma ligação muda tudo e tudo muda o tempo todo. A única coisa que eu ouvia era o conselho que me dizia pra esquecer, curtir, deixar pra lá. Fui deixando e nessa deixa me senti culpada, se eu estivesse acordado mais cedo, se eu não tivesse saído no dia anterior, se eu não tivesse dado tantas preocupações pro meu avô, o “se” adjunto com suas infinitas possibilidades me perseguiam o tempo todo e eu tenho um jeito muito engraçado de lidar com a culpa, eu deixo ela comigo e vou me punindo ao longo dos dias. É uma falta inconsciente – como aquelas que eu cometo em nome dos meus romances -, deixa tudo na conta da porra do amor, depois um dia ele vem e cobra a gente.

Infelizmente quando a conta chega pra mim eu também desenvolvo um jeito muito peculiar de lidar com ela, vou juntando todas as notinhas e um dia eu juro que vou pagar. Vou pagar muito caro e com juros só não é hora ainda. Ao invés de pensar no amor e no fato de que minha família estava sucumbindo emocionalmente, eu só pensei em mim mesma (como todo mundo me disse que as pessoas fazem no dia do aniversário), então eu decidi deleitar-me no playland e eu tenho que admitir que aqueles foram os unicos minutos em que todas as minhas preocupações, todas minhas culpas estavam longe de mim e eu sorri, eu até consegui sorrir.

Mamãe me levou pra comer no Rockets como nós fazemos todo dia vinte e cinco de fevereiro em que estamos em bons anos, e até mesmo na única tradição que eu consigo manter as coisas deram errado. Tivemos uma discussão sobre um assunto que eu só me esquivo, ela me pediu pra fazer algo que eu não poderia fazer agora, eu me desculpei, me culpei um pouco mais, não consegui comer minha comida preferida no mundo todo. Tava engasgado, ta tudo engasgado em mim, pelo menos naqueles bancos de couro vermelho meus problemas pareciam desaparecer mas dessa vez não funcionou, eu senti falta do meu priminho, da minha tia, das pessoas na mesa, esse ano era só eu e mamãe, solitárias e tristes dividindo meia porção de cebolas.

Eu desconsiderei tudo isso, subi no salto e literalmente só me machuquei. Coisas ruins acontecem comigo e eu não reajo mais, no máximo eu dou risada, engulo seco e respondo sempre: sim, ta tudo bem, tudo ótimo. Ótimo é o caralho, no dia do meu aniversário eu não queria estar lá e eu não queria ser eu mesma. Eu consegui alcançar a segunda porque definitivamente não fui eu mesma. Moldei-me forte em meia hora e não foi suficiente, a máscara que esconde meus sentimentos estava até maquiada.

Acho que eu tenho que admitir que comigo as coisas são diferentes, eu não devia ter escolhido uma balada pra comemorar meu aniversário, afinal eu me divirto muito mais com fliperamas, teria sido melhor ir ao playland de novo, fazer uma festa em casa, um piquinique no parque, tanto faz, tudo menos aquilo.

O lugar era legal, as pessoas estavam lá, mas eu não pude deixar de sentir que faltava alguma coisa, comigo é sempre assim eu nunca me sinto plena, completa e despreocupada. Acho inclusive que é por isso que eu não consigo dançar, eu conheço a liberdade, toda parte em toda categoria dela, mas não sou livre pra me soltar. Meus amigos mais íntimos partiram pra outra missão e eu fiquei pra catástrofe, pra minha degradação, pro meu desgosto.

As pessoas me diziam que eu tinha que sentir a musica e eu percebi que eu sinto a musica de um jeito diferente, minha expressão não é física, mas minha mente expande e os pensamentos sempre parecem mais claros pra mim. Eu lembro que naquela pista de dança eu não me importava mais com a sorte, o azar, o destino ou o justo e o injusto. Se eu fechasse meus olhos poderia me esquecer de novo das coisas que eu fiz, das coisas que eu vi, que eu senti. Lembrei-me então de que quando era criança meu pai costumava dizer que sempre que eu tivesse medo de ver alguma coisa eu deveria fechar meus olhos, e toda vez que eu sentisse muita dor eu deveria respirar com os olhos fechados.

Lembrar dele obviamente me fez ter vontade de chorar, muitas vezes eu tive vontade de chorar no dia de hoje, mas eu fui forte em todas elas afinal uma mocinha não deixa a maquiagem borrar. Eu esperei chegar em casa, tirar minhas traças de roupas, tirar esse palhaço sorridente do meu rosto e chorar, chorar como um bebe que eu fui há dezenove anos atrás. Eu fechei meus olhos e eu respirei, quando eu abri de novo eu vi um novo mundo no teto, eu precisava de uma distração e tinha encontrado a mais chamativa de todas elas. Naquela hora nada importava enquanto eu ainda tivesse as luzes no teto pra admirar, então eu tive literalmente a noite toda pra olhar e olhar de novo.

Acho que é verdade que os piscianos são frágeis e sensíveis e eu apesar de tentar não sou uma exceção, as três da manhã com toda carga emocional contida em mim misturada com algumas vodcas a mais resultaram na minha total depreciação, eu queria meus queridos amigos, aqueles que seguram minha barra, mas tudo o que eu tinha eram as luzes que brilhavam sob a minha cabeça iluminando todo aquele inferno onde eu não queria mais estar. E as luzes brilharam até as sete da manhã quando eu já estava completamente indiferente a tudo, quando todas as coisas que eu precisava dizer já tinham se petrificado, todas as minhas cinqüenta ligações não tinham sido retornadas, eu estava sem bolsa, sem chave de casa, sem cigarros. Sair de uma balada na luz do dia nessas condições foi o estopim da minha tristeza e quando a tristeza vem bater a minha porta eu digo: foda-se.

Estava tudo perdido, tudo errado e eu não poderia fazer nada pra consertar ou ajudar, eu estava um trapo e não fazia a menor idéia do que fazer, foi quando eu tive a sorte de ter bons amigos e consegui me comunicar com eles. Que como de costume me salvaram de mim mesma, dessa vez um pouco tarde demais, no entanto me resgataram das minhas insensatezes, ainda que o preço a se pagar foram as infinitas risadas que nós demos de mim mesma. Porque quando eu contava minha noite eles não acreditavam, não entendiam e eu tampouco. Sobrava só rir, a única coisa que estava faltando era a profecia da minha tia se tornar realidade e eu cair de joelhos na noite de ontem, ainda bem que isso só aconteceu na garagem da casa da minha amiga, mas doeu muito, uma dor como todas as outras dores que causamos a nós mesmos quando estamos anestesiados, tipo aquela que só vai doer depois. Combinou bem com o hematoma no mesmo joelho que eu adquiri um pouco antes tentando fugir loucamente de uns pedreiros que eu nem sei se existem.

Feliz aniversário pra mim, a mais azarada idiota do grande ABC. Que sempre ganha o bolo, mas nunca a cereja, pelo menos eu ganhei a segunda coisa que eu mais queria no mundo. Muitas felicidades e que muitos ânus venham com esses anos porque de tanto tomar no cu, eu bem que precisava de uma bundinha extra.

15.2.11

Bom Humor Atrai

Acordar as seis da manhã todos os dias deixa qualquer sujeito um pouco mais apto a ficar mal humorado, não que seja naturalmente da índole do cidadão, mas porra tem coisa que não dá, não dá pra tolerar. Hoje eu passei por algumas delas, a começar com a minha tentativa fracassada de me enturmar na minha sala de aula. Sim porque a única bicha que eu identifiquei tem cara de menino que dorme de pijama de seda, não bebe, não fuma e não fode. Falar em foder, os bombados e descolados meninos freqüentadores do Supra consideram virgens as pessoas que gostam de jogar fliperama, só queria dizer que PAU NO CU DELES. Fiz amizade com duas figuras que obviamente não são da minha turma estão apenas fazendo DP, ou seja vou vê-los raramente.

No entanto eu posso dizer com certeza que meu dia só começou de verdade quando na minha cidade também começou a garoar, sendo São Bernardo uma cidade com um clima parecida com Londres (foi uma RYCA que disse), a garoa começou cedo e como a lei de Murphy nunca falha eu tomei no cu, Murphy traz a desgraça, mas com ela coisas engraçadas também aparecem pelo caminho. Por caminho eu digo quatro quilômetros com uma bicha molhada reclamando e dando risada do meu lado, tudo começou com o meu ato de infinita benevolência em oferecer minha companhia pra veterana mais malvada da Metodista @maaromano. Era só uma passadinha no Poupa Tempo e um exame psicotécnico, tudo muito simples na teoria, porque na prática as viadas s

ó se foderam. Acho que na visão dos nossos excelentíssimos funcionários públicos desempregado tem que se foder mesmo afinal eles tem o emprego deles e foda-se. Demorou tanto pra que eles nos atendessem que deu até tempo de almoçar, contar metade da minha vida, voltar e esperar mais duas horas, aquilo parecia uma balada, tava lotado, tinha gente feia se esbarrando e encontramos várias amigas, inclusive uma amiga RYCA chamada @nah_patente, sim porque quando você vai ao Poupa Tempo renovar sua carta e pagar a taxa é tudo muito rápido. Afinal eles querem é encher o cu de dinheiro.Minhas costas já estavam gritando, minhas pernas estavam desfalecidas, acho que se movimentavam por inércia. Demorou tanto, mas tanto que eu seriamente pensei na possibilidade de virar uma múmia - exatamente como eu pensei dez anos atrás -, quando estávamos quase lá na boca do balão a maldita gorda que ia nos atender levantou pra ir tomar um cafezinho, logo em seguida a gorda companheira de trabalho foi junto, sim porque funcionárias publicas gordas devem dividir rosquinhas (sem maldade) no coffee break. A situação começou a ficar critica quando São Pedro resolveu cagar em forma de água nas nossas cabeças, foi quando a gorda nos avisou de que não tinha mais maquina de Xerox lá dentro, traduzindo: alguém teria que atravessar a rua na chuva pra tirar a porra da Xerox, devo admitir que foi muito engraçado ver a @maaromano fodendo toda a chapinha que acordou cedo pra fazer naquela chuva torrencial, uma boa palavra pra ser lembrada.

O relógio já marcava 16:45 quando saímos do Poupa porra de Tempo nenhum. Eu já tava toda fodida mesmo, com dor no corpo inteiro, sono, cansaço. É nessas horas que nós estamos mais podres que as noticias boas aparecem, o simples exame psicotécnico era simplesmente na puta que pariu, andar na chuva parece que desacelera as pessoas e quinze minut

os viraram trinta, e trinta minutos fizeram toda a diferença, a água não parava de cair e eu só pensava positivo – como naquele papel de bala que dizia: bom humor atrai -, eu acreditei pra tentar variar um pouco e eu vi o que atrai, atrai um bando de baianos numa Brasilia (paquerando) as duas desertoras encharcadas, foi o fim da picada. The End, o Apocalipse, aquele carro bege, feio, cheio de tétano no capô foi u ó, se eu pudesse faria com aquele carro maldito igual fizeram com este, mas com o pensamento de bom humor atrai eu me contive e nem falei nada.

Pra completar a @maaromano estava com tanto medo e tão tensa em relação ao psicotécnico que não deu outra e Murphy nos acertou novamente. Eu desconfiei desde o inicio que ela não estava preparada pro teste afinal ela realmente pensou que teria dificuldades em distinguir verde, amarelo e vermelho. Imagina uma louca dessa não distinguindo as cores do semáforo no cruzamento #fail na certa. A lei de Murphy acrescentada com o infeliz comentário: se tiver fechada eu te mato. Confirmaram que pensamentos negativos atraem coisas negativas. Chegamos na porta da clinica as 17:57, quando eu vi a placa fechado eu realmente não sabia se eu ria, chorava, ficava puta ou zoava a mais prejudicada – que pelo menos DESSA VEZ não fui eu -, os três minutos restantes foram dedicados a um cigarro e um sentimento chamado aceitação da tragédia cômica. Aquela puta vontade de dar risada e chorar ao mesmo tempo, afinal quatro quilômetros na chuva, depois de ter ficado quatro horas em pé já é um pouco demais.

Na volta pra casa eu só tinha mais dois quilômetros pela frente passando pelo fervo animado que é a Rua Marechal Deodoro no horário de pico, juro que os motoristas São Bernardenses ainda vão me matar atropelada, parecem loucos, só tem louco nessa cidade. Ainda bem que meu fon

e de ouvido me separa deles e com a ajuda de Waterman e Two Weeks in Hawaii meu caminho de volta pra casa se pareceu muito com a cena do primeiro do episódio de Skins, que eles voltam molhados e cabisbaixas pra casa, tenho fama de Sid mesmo (fiz a cama agora melhor deitar nela), mas não importa se meu tênis branco agora está cinza, ou o nojo que eu tive dos meus pés enrugados da água de chuva, nem importa as pernas cansadas ou a gripe que amanhã vai estar batendo na minha porta, eu achei tudo muito divertido, ou talvez seja a febre falando por mim.

O que importa de verdade é que eu percebi que nós somos produtos do nosso tempo, do que fazemos com ele. No entanto apesar de sermos produto do nosso tempo não somos meros números, e o que vale a pena de verdade é gastar o máximo de segundos possíveis vivendo e se aventurando, porque no final das contas tudo o que nos diferencia são as histórias que temos pra contar. E todos aqueles dias que valem a pena serem lembrados pela tragédia cômica ou comédia trágica.