27.2.11

Muitas felicidades, muitos ânus de vida

Finalmente eu cheguei aos dezenove anos e isso não faz a menor diferença, idade pífia, sem graça. Queria ter vinte, trinta. Queria viver na época de sessenta, mas não tive sorte nem nisso. Nasci no tempo errado, até nisso eu me atrasei. Que bom seria se minha vida fosse como no meu ideal universo paralelo, toda vez que eu quase o alcanço a realidade vem me despertar e nunca é de uma maneira sutil.

Turbilhões de pensamentos e sentimentos me assombram o tempo todo, diferente dos jovens de hoje em dia eu simplesmente não consigo libertar minha mente e meu corpo, eu não me permito deixar de ponderar nem por um segundo, não funciono como os outros e me sinto a cada ano que passa cada vez mais extraterrestre. Estou sempre pensando, sentindo e de que adianta se nada falo nada faço? Meus amigos sempre me dizem que eu sou insegura, mas como eu poderia não ser se não faço parte de nada importante, não contribuo pra nada que vai durar pra sempre, eu não fiz nada grande, no entanto tive meus projetos, tantos projetos dos quais eu abandonei porque a emoção tinha passado, o momento tinha passado por mim e como minha juventude eu nem mesmo reparei.

Por isso eu acredito que todo momento especial precisa ser capturado de alguma forma. N

ão quero esquecer meus dezenove, por sorte eu não tirei nenhuma foto e pra ser capturado meu momento poderia apenas ser escrito, palavra por palavra nesse lindo sábado de manhã onde todos os meus amigos estão dormindo, enquanto eu fico pensando qual é o grande plano pra mim?

Eu já devia ter aprendido que eventos no facebook nunca são bons pra nada, eu sempre acabo me ferrando com eles, o tal de maratona de aniversário não poderia ter sido diferente. Eu decidi entrar no espírito da coisa, e por coisa eu digo a idéia fixa das pessoas sobre me travestir. Juro que fiz meu melhor, quando tive vontade de chorar não chorei porque lembrei da maquiagem, e quando tive vontade de fugir eu percebi que não gosto de sapatos altos porque eles não são bons pra fugas. E eu quero correr o tempo todo, fugir, esquecer, nada disso é possível com aquela dor insuportável no pé. Digo que por sorte não tive fotografias porque elas seriam catastróficas, se eu fosse capturar o exato momento em que eu cheguei em casa eu acho que aquela seria a foto da minha vida, eu não sendo eu num estado deplorável, as botas em uma mão, as meias pretas de sujeira, a camisa queimada, o joelho todo fodido estropiado e o lenço que eu escolhi tão carinhosamente tinha mostrado todo seu tamanho porque eu me cobri como um manto. Graças a Deus ninguém estava aqui pra me recepcionar, eles nunca estão.

Meu azar conseguiu se superar no meu dia especial. Começou com a minha avó se esquecendo que há dezenove anos eu tinha nascido, eu esperava acordar com abraços e beijos, mas tudo o que eu recebi foi um “acorda logo que você está sempre atrasada”. Presumindo que o dia seria bom pela sua premissa eu peguei minhas coisas e fui embora afinal eu estava atrasada pro nada, e o nada parece sempre estar atrás de mim. Conheci novas pessoas das quais nunca lembrarei o nome, e que nunca saberiam que aquele era meu aniversario, praticamente o primeiro aniversário que eu comemorei na minha vida. Todos os anteriores caíram muito perto do carnaval pros meus amigos não estarem viajando e no ultimo é claro eu passei numa cama de hospital com dengue, mas não aquele, aquele eu jurei pra mim mesma que eu faria de tudo pra superar, pra ser o melhor possível e olha no que deu: Voltei pra casa pobre, sem cigarros, sem fome, sem sono, voltei pra casa sem nada, me sinto um zumbi, com ausência de vida e excesso de histórias, voltei sem peso, sem medo, sem qualquer consideração comigo mesma, eu acho que deixei tudo nas paredes daquele losango colorido. Definitivamente algo se perdeu em mim e eu pensei que em aniversários nós só ganhávamos, eu perdi a mim mesma e não consigo achar em lugar nenhum.

Deveria ter sido diferente, minha avó não deveria ter me ligado pra dizer as coisas que disse, uma ligação muda tudo e tudo muda o tempo todo. A única coisa que eu ouvia era o conselho que me dizia pra esquecer, curtir, deixar pra lá. Fui deixando e nessa deixa me senti culpada, se eu estivesse acordado mais cedo, se eu não tivesse saído no dia anterior, se eu não tivesse dado tantas preocupações pro meu avô, o “se” adjunto com suas infinitas possibilidades me perseguiam o tempo todo e eu tenho um jeito muito engraçado de lidar com a culpa, eu deixo ela comigo e vou me punindo ao longo dos dias. É uma falta inconsciente – como aquelas que eu cometo em nome dos meus romances -, deixa tudo na conta da porra do amor, depois um dia ele vem e cobra a gente.

Infelizmente quando a conta chega pra mim eu também desenvolvo um jeito muito peculiar de lidar com ela, vou juntando todas as notinhas e um dia eu juro que vou pagar. Vou pagar muito caro e com juros só não é hora ainda. Ao invés de pensar no amor e no fato de que minha família estava sucumbindo emocionalmente, eu só pensei em mim mesma (como todo mundo me disse que as pessoas fazem no dia do aniversário), então eu decidi deleitar-me no playland e eu tenho que admitir que aqueles foram os unicos minutos em que todas as minhas preocupações, todas minhas culpas estavam longe de mim e eu sorri, eu até consegui sorrir.

Mamãe me levou pra comer no Rockets como nós fazemos todo dia vinte e cinco de fevereiro em que estamos em bons anos, e até mesmo na única tradição que eu consigo manter as coisas deram errado. Tivemos uma discussão sobre um assunto que eu só me esquivo, ela me pediu pra fazer algo que eu não poderia fazer agora, eu me desculpei, me culpei um pouco mais, não consegui comer minha comida preferida no mundo todo. Tava engasgado, ta tudo engasgado em mim, pelo menos naqueles bancos de couro vermelho meus problemas pareciam desaparecer mas dessa vez não funcionou, eu senti falta do meu priminho, da minha tia, das pessoas na mesa, esse ano era só eu e mamãe, solitárias e tristes dividindo meia porção de cebolas.

Eu desconsiderei tudo isso, subi no salto e literalmente só me machuquei. Coisas ruins acontecem comigo e eu não reajo mais, no máximo eu dou risada, engulo seco e respondo sempre: sim, ta tudo bem, tudo ótimo. Ótimo é o caralho, no dia do meu aniversário eu não queria estar lá e eu não queria ser eu mesma. Eu consegui alcançar a segunda porque definitivamente não fui eu mesma. Moldei-me forte em meia hora e não foi suficiente, a máscara que esconde meus sentimentos estava até maquiada.

Acho que eu tenho que admitir que comigo as coisas são diferentes, eu não devia ter escolhido uma balada pra comemorar meu aniversário, afinal eu me divirto muito mais com fliperamas, teria sido melhor ir ao playland de novo, fazer uma festa em casa, um piquinique no parque, tanto faz, tudo menos aquilo.

O lugar era legal, as pessoas estavam lá, mas eu não pude deixar de sentir que faltava alguma coisa, comigo é sempre assim eu nunca me sinto plena, completa e despreocupada. Acho inclusive que é por isso que eu não consigo dançar, eu conheço a liberdade, toda parte em toda categoria dela, mas não sou livre pra me soltar. Meus amigos mais íntimos partiram pra outra missão e eu fiquei pra catástrofe, pra minha degradação, pro meu desgosto.

As pessoas me diziam que eu tinha que sentir a musica e eu percebi que eu sinto a musica de um jeito diferente, minha expressão não é física, mas minha mente expande e os pensamentos sempre parecem mais claros pra mim. Eu lembro que naquela pista de dança eu não me importava mais com a sorte, o azar, o destino ou o justo e o injusto. Se eu fechasse meus olhos poderia me esquecer de novo das coisas que eu fiz, das coisas que eu vi, que eu senti. Lembrei-me então de que quando era criança meu pai costumava dizer que sempre que eu tivesse medo de ver alguma coisa eu deveria fechar meus olhos, e toda vez que eu sentisse muita dor eu deveria respirar com os olhos fechados.

Lembrar dele obviamente me fez ter vontade de chorar, muitas vezes eu tive vontade de chorar no dia de hoje, mas eu fui forte em todas elas afinal uma mocinha não deixa a maquiagem borrar. Eu esperei chegar em casa, tirar minhas traças de roupas, tirar esse palhaço sorridente do meu rosto e chorar, chorar como um bebe que eu fui há dezenove anos atrás. Eu fechei meus olhos e eu respirei, quando eu abri de novo eu vi um novo mundo no teto, eu precisava de uma distração e tinha encontrado a mais chamativa de todas elas. Naquela hora nada importava enquanto eu ainda tivesse as luzes no teto pra admirar, então eu tive literalmente a noite toda pra olhar e olhar de novo.

Acho que é verdade que os piscianos são frágeis e sensíveis e eu apesar de tentar não sou uma exceção, as três da manhã com toda carga emocional contida em mim misturada com algumas vodcas a mais resultaram na minha total depreciação, eu queria meus queridos amigos, aqueles que seguram minha barra, mas tudo o que eu tinha eram as luzes que brilhavam sob a minha cabeça iluminando todo aquele inferno onde eu não queria mais estar. E as luzes brilharam até as sete da manhã quando eu já estava completamente indiferente a tudo, quando todas as coisas que eu precisava dizer já tinham se petrificado, todas as minhas cinqüenta ligações não tinham sido retornadas, eu estava sem bolsa, sem chave de casa, sem cigarros. Sair de uma balada na luz do dia nessas condições foi o estopim da minha tristeza e quando a tristeza vem bater a minha porta eu digo: foda-se.

Estava tudo perdido, tudo errado e eu não poderia fazer nada pra consertar ou ajudar, eu estava um trapo e não fazia a menor idéia do que fazer, foi quando eu tive a sorte de ter bons amigos e consegui me comunicar com eles. Que como de costume me salvaram de mim mesma, dessa vez um pouco tarde demais, no entanto me resgataram das minhas insensatezes, ainda que o preço a se pagar foram as infinitas risadas que nós demos de mim mesma. Porque quando eu contava minha noite eles não acreditavam, não entendiam e eu tampouco. Sobrava só rir, a única coisa que estava faltando era a profecia da minha tia se tornar realidade e eu cair de joelhos na noite de ontem, ainda bem que isso só aconteceu na garagem da casa da minha amiga, mas doeu muito, uma dor como todas as outras dores que causamos a nós mesmos quando estamos anestesiados, tipo aquela que só vai doer depois. Combinou bem com o hematoma no mesmo joelho que eu adquiri um pouco antes tentando fugir loucamente de uns pedreiros que eu nem sei se existem.

Feliz aniversário pra mim, a mais azarada idiota do grande ABC. Que sempre ganha o bolo, mas nunca a cereja, pelo menos eu ganhei a segunda coisa que eu mais queria no mundo. Muitas felicidades e que muitos ânus venham com esses anos porque de tanto tomar no cu, eu bem que precisava de uma bundinha extra.

15.2.11

Bom Humor Atrai

Acordar as seis da manhã todos os dias deixa qualquer sujeito um pouco mais apto a ficar mal humorado, não que seja naturalmente da índole do cidadão, mas porra tem coisa que não dá, não dá pra tolerar. Hoje eu passei por algumas delas, a começar com a minha tentativa fracassada de me enturmar na minha sala de aula. Sim porque a única bicha que eu identifiquei tem cara de menino que dorme de pijama de seda, não bebe, não fuma e não fode. Falar em foder, os bombados e descolados meninos freqüentadores do Supra consideram virgens as pessoas que gostam de jogar fliperama, só queria dizer que PAU NO CU DELES. Fiz amizade com duas figuras que obviamente não são da minha turma estão apenas fazendo DP, ou seja vou vê-los raramente.

No entanto eu posso dizer com certeza que meu dia só começou de verdade quando na minha cidade também começou a garoar, sendo São Bernardo uma cidade com um clima parecida com Londres (foi uma RYCA que disse), a garoa começou cedo e como a lei de Murphy nunca falha eu tomei no cu, Murphy traz a desgraça, mas com ela coisas engraçadas também aparecem pelo caminho. Por caminho eu digo quatro quilômetros com uma bicha molhada reclamando e dando risada do meu lado, tudo começou com o meu ato de infinita benevolência em oferecer minha companhia pra veterana mais malvada da Metodista @maaromano. Era só uma passadinha no Poupa Tempo e um exame psicotécnico, tudo muito simples na teoria, porque na prática as viadas s

ó se foderam. Acho que na visão dos nossos excelentíssimos funcionários públicos desempregado tem que se foder mesmo afinal eles tem o emprego deles e foda-se. Demorou tanto pra que eles nos atendessem que deu até tempo de almoçar, contar metade da minha vida, voltar e esperar mais duas horas, aquilo parecia uma balada, tava lotado, tinha gente feia se esbarrando e encontramos várias amigas, inclusive uma amiga RYCA chamada @nah_patente, sim porque quando você vai ao Poupa Tempo renovar sua carta e pagar a taxa é tudo muito rápido. Afinal eles querem é encher o cu de dinheiro.Minhas costas já estavam gritando, minhas pernas estavam desfalecidas, acho que se movimentavam por inércia. Demorou tanto, mas tanto que eu seriamente pensei na possibilidade de virar uma múmia - exatamente como eu pensei dez anos atrás -, quando estávamos quase lá na boca do balão a maldita gorda que ia nos atender levantou pra ir tomar um cafezinho, logo em seguida a gorda companheira de trabalho foi junto, sim porque funcionárias publicas gordas devem dividir rosquinhas (sem maldade) no coffee break. A situação começou a ficar critica quando São Pedro resolveu cagar em forma de água nas nossas cabeças, foi quando a gorda nos avisou de que não tinha mais maquina de Xerox lá dentro, traduzindo: alguém teria que atravessar a rua na chuva pra tirar a porra da Xerox, devo admitir que foi muito engraçado ver a @maaromano fodendo toda a chapinha que acordou cedo pra fazer naquela chuva torrencial, uma boa palavra pra ser lembrada.

O relógio já marcava 16:45 quando saímos do Poupa porra de Tempo nenhum. Eu já tava toda fodida mesmo, com dor no corpo inteiro, sono, cansaço. É nessas horas que nós estamos mais podres que as noticias boas aparecem, o simples exame psicotécnico era simplesmente na puta que pariu, andar na chuva parece que desacelera as pessoas e quinze minut

os viraram trinta, e trinta minutos fizeram toda a diferença, a água não parava de cair e eu só pensava positivo – como naquele papel de bala que dizia: bom humor atrai -, eu acreditei pra tentar variar um pouco e eu vi o que atrai, atrai um bando de baianos numa Brasilia (paquerando) as duas desertoras encharcadas, foi o fim da picada. The End, o Apocalipse, aquele carro bege, feio, cheio de tétano no capô foi u ó, se eu pudesse faria com aquele carro maldito igual fizeram com este, mas com o pensamento de bom humor atrai eu me contive e nem falei nada.

Pra completar a @maaromano estava com tanto medo e tão tensa em relação ao psicotécnico que não deu outra e Murphy nos acertou novamente. Eu desconfiei desde o inicio que ela não estava preparada pro teste afinal ela realmente pensou que teria dificuldades em distinguir verde, amarelo e vermelho. Imagina uma louca dessa não distinguindo as cores do semáforo no cruzamento #fail na certa. A lei de Murphy acrescentada com o infeliz comentário: se tiver fechada eu te mato. Confirmaram que pensamentos negativos atraem coisas negativas. Chegamos na porta da clinica as 17:57, quando eu vi a placa fechado eu realmente não sabia se eu ria, chorava, ficava puta ou zoava a mais prejudicada – que pelo menos DESSA VEZ não fui eu -, os três minutos restantes foram dedicados a um cigarro e um sentimento chamado aceitação da tragédia cômica. Aquela puta vontade de dar risada e chorar ao mesmo tempo, afinal quatro quilômetros na chuva, depois de ter ficado quatro horas em pé já é um pouco demais.

Na volta pra casa eu só tinha mais dois quilômetros pela frente passando pelo fervo animado que é a Rua Marechal Deodoro no horário de pico, juro que os motoristas São Bernardenses ainda vão me matar atropelada, parecem loucos, só tem louco nessa cidade. Ainda bem que meu fon

e de ouvido me separa deles e com a ajuda de Waterman e Two Weeks in Hawaii meu caminho de volta pra casa se pareceu muito com a cena do primeiro do episódio de Skins, que eles voltam molhados e cabisbaixas pra casa, tenho fama de Sid mesmo (fiz a cama agora melhor deitar nela), mas não importa se meu tênis branco agora está cinza, ou o nojo que eu tive dos meus pés enrugados da água de chuva, nem importa as pernas cansadas ou a gripe que amanhã vai estar batendo na minha porta, eu achei tudo muito divertido, ou talvez seja a febre falando por mim.

O que importa de verdade é que eu percebi que nós somos produtos do nosso tempo, do que fazemos com ele. No entanto apesar de sermos produto do nosso tempo não somos meros números, e o que vale a pena de verdade é gastar o máximo de segundos possíveis vivendo e se aventurando, porque no final das contas tudo o que nos diferencia são as histórias que temos pra contar. E todos aqueles dias que valem a pena serem lembrados pela tragédia cômica ou comédia trágica.

9.2.11

First Day

Em cada lugar existem pessoas que se destacam, as vezes que eu fui uma delas foram aquelas em que o destaque era de certa forma pejorativa, como a garota estranha, a nerd, a maluca. O fato de eu confirmar dizendo que minha cabeça funciona de um jeito diferente também não é a melhor forma de me enturmar. Eu li uma tatuagem que dizia: Being Grown Up Isn't Half As Fun As Growing Up, até agora eu não estou achando nada divertido crescer, eu finalmente entrei pra faculdade, agora supostamente eu deveria fazer um plano, ter uma aspiração, mas eu não tenho.

No meu primeiro dia eu me diverti, isso é inegável, mas eu não pude evitar de sentir que aquele não era meu lugar, eu não queria ser eu mesma, nem queria estar lá, ou talvez eu tenha sentido que não é meu tempo. Infelizmente eu enxergo as pessoas de um jeito diferente, e de maneira geral o que eu vi era vazio. Por sorte eu tinha alguém pra me proteger de todo o vandalismo e da crueldade que cai sob os calouros, e por sorte eu nunca enxerguei nada de ruim nela, afinal requer muita coragem e originalidade pra deitar e dormir na calçada, e isso meu amigo merece uma certa admiração.

Há dois meses atrás eu nunca consideraria a possibilidade de ir a um evento como o trote da faculdade, mas eu estou tentando me superar em certos impedimentos pessoais, eu tenho meus próprios tabus, como meu problema com a dança, a timidez, a água, e por fim o medo de conhecer muitas e pessoas e nenhuma gostar de mim. Eu sempre penso desse jeito e acabo perdendo dias da minha vida, mas aquele não, eu não perdi porque eu não fui covarde e foi um dia pra ser lembrado pra sempre.

Consegui enfrentar até mesmo meu carma com malabares no farol, todo mundo sempre me dizia que eu devia tentar um dia e eu nunca consegui criar coragem, não importava o quanto eu estava me sentindo estranha naquele ambiente, eu só pensava que independente do que acontecesse eu não podia deixar a bola cair. É a perfeita analogia do caminho que eu tenho que percorrer, não vai ser fácil, isso eu sei com certeza, minha cabeça vai se distrair as vezes, porque nem bixete é santa, mas eu vou tentar dar o meu melhor.

A começar com a tentativa de fazer amizades, eu realmente não queria ficar suja e fodida no dia do trote pra poder conversar decentemente com as pessoas, deu certo até que a noite chegou e com ela meus amigos baderneiros também. Foi então que eu percebi três coisas, eu não devia ter ficado longe da minha veterana @maaromano, meus amigos são uns paus nos cus, e eu ainda consigo correr rápido pra caralho. Mas como nem tudo no Brasil é festa conseguiram me pegar na esquina e me encheram de tinta verde. No fundo eu devia agradecer a eles porque eu tinha que me sujar um pouco, não vou ter oportunidade de ter essa experiência de novo tão cedo, eu fico feliz que não tenham sido desconhecidos e sim a bicha da perna comprida da @BrunoMameli e a atentada linda da @JuCamillo_ , depois eu fui obrigada pela @camillafeltrin a fazer malabares no meio da esfiharia pintada de Fiona. Como é uma das minhas histórias não para por aí.

Depois da minha humilhação eu senti que merecia uma bebida e fui até o famoso e previamente conhecido Supra Bar, lá eu vi um folder que dizia que aqueles seriam os melhores quatro anos da porra da minha vida, foi quando eu tomei um banho de Mojito na cabeça que eu percebi que provavelmente é verdade. Não importa se algumas vezes eu tenha que ver coisas que me enojam, ou ouvir cantadas heterossexuais que vão acabar com a minha ingenuidade, não importa se eu tiver que acordar as seis da manhã todo dia, nem me importo de ajoelhar e levantar pedindo desculpas, não ligo de ser bixete, nem de ter que tentar dançar, não ligo de pegar uma fila enorme no banco pra poder comprar uma acetona na fila quilométrica da farmacia a toa, não ligo mais de tentar coisas novas, nem de reforçar as antigas. Não me importo pro que me reservaram pra hoje, como diria nas musicas de pagode que devido a Metodisney eu vou ter que ouvir sempre: Deixa acontecer naturalmente. Deve ser alguma coisa desse tipo, analisando essas musicas eu pude perceber que apesar da breguice elas podem ser românticas e encorajadoras. O amanhã eu resolvo amanhã, mas hoje eu cansei de esperar, a única coisa que me faz dormir bem é que eu sei que os melhores anos da minha vida estão pra começar.

5.2.11

Adrenalina

O corpo humano responde a certos eventos liberando endorfina ou adrenalina, de endorfina eu entendo até demais, me especializei em maneiras de liberar aquilo que me fazia sentir bem. O que me falta de vez em quando é coragem de pular, de entrar em cabeça em certas coisas que as pessoas achariam completamente triviais, incluindo todas aquelas que liberam adrenalina, ter coragem de dançar numa pista de dança – mesmo sabendo que se é um desastre -, ter coragem de mergulhar em uma piscina, de dizer verdades sem vírgulas ou porques, não tenho coragem nem de parar de me desculpar.

Eu me cansei de ser a “bunda mole” da história e resolvi viver um pouco, me importar um pouco menos, aqueles que se importam demais também sofrem demais, o desapego as vezes torna-se inevitável e as pessoas aprendem a não se importar pra se proteger. Por outro lado o ideal de proteção é muito abstrato, eu me fecho ao máximo, eu nego, eu evito, mas as vezes sou atraída pela adrenalina como um pedaço de metal atrai-se a um imã. Não é uma analogia referente aos meus sentimentos, mas sim as minhas ações. Mesmo sem intenção as vezes os eventos não acontecem como o planejado.

Tenho feito os mesmo caminhos que fazia há anos atrás, não é uma questão de nostalgia ou tampouco tenho intenção de regressar, jamais desejaria verdadeiramente ser como fui – errante – um dia. Por mais que eu tente evitar situações de risco, as vezes elas nos pegam desprevenidos, um golpe do destino, uma covardia de uma corporação que supostamente devia nos proteger. Eu não posso evitar de pensar que a distinção entre o certo e o errado é uma linha tênue que as vezes é ultrapassada com a desculpa de que é melhor assim.

Hoje minha amiga teve um ataque de pânico por causa da imprudência e descaso de uma viatura policial que jogou gás lacrimogênio na frente da faculdade UNIABC. A desculpa pra ter fodido temporariamente a respiração dos civis era de que eles queriam acabar com a bagunça, minha pergunta é até onde as autoridades podem interferir nas vias publicas,

ainda mais considerando de que eu e meus amigos, que estávamos na parte de cima de um bar de esquina também inalamos do mesmo jeito que os baderneiros da rua inalaram o gás que por sinal faz muito mal.

O pior de tudo é o perfil daqueles que teoricamente seriam o alvo da bomba, passamos com o carro pela rua procurando uma vaga e pudemos observar o verdadeiro inferno de Dante que é aquele lugar de sexta-feira a noite. Garotas de micro saiais em cima de carros, homens flácidos sem camisa achando-se no direito de colocar aqueles funks malditos no ultimo volume, é tudo muito bonito até que os excelentíssimos senhores policiais chegam e acabam com a festa, eles podiam pensar numa tática de alcançar o objetivo sem atingir quem nada tem a ver com a bagunça toda, mas não, moramos em um país em que não se considera o conforto da população, muito menos na rua.

A adrenalina numero dois foi na hora de tentar voltar pra casa, sim porque ao invés de fazer coisas uteis como fiscalização de motoristas bêbados, os policiais estão ocupados demais jogando bomba de gás lacrimogênio na população, a lei seca é uma prova de que tudo nesse país vira carnaval, cadê as tão temidas batidas policiais nas ruas de madrugada¿ Onde estão nossos PM’S quando alguém vem nos assaltar, onde estão eles quando um bêbado filho da puta quase bate no nosso carro ¿ a quantidade da descarga de adrenalina que eu liberei foi tão grande que minha primeira reação foi ficar estática, virei uma estatua diante de tal proximidade fatal, depois da adrenalina o corpo se acalma e libera mais endorfina, depois de ficar completamente assustada eu e meus amigos começamos a rir, foi obviamente uma reação química a nosso trauma porque não era engraçado, mas o alivio de não ter acontecido nada nos fazia rir como crianças que ganham brinquedos novos.

A sensação de adrenalina é algo realmente peculiar, meu coração dispara, meu sangue corre rápido pelas minhas veias e eu sinto vida, pra mim existem dois tipos de adrenalina, agradeço quando tenho sorte de ter a boa, que injeta uma quantidade de coragem em mim – mesmo que seja por cinco minutos – pelo menos eu tenho um pouco de progresso, queria poder ser corajosa o tempo todo e me preparar pra escorregar na cachoeira da vida, mas eu me paro, eu me atraso, alguns medos me impedem de ir até o final e de alguma forma eu sempre consigo dar um jeito de estragar tudo. Depois de uma experiência como a que eu tive hoje eu realmente comecei a pensar sobre o valor de tudo, do meu mundo, daqui em diante eu vou procurar coragem e determinação pra ir até o final em tudo e tentar dar o melhor de mim, porque a gente nunca sabe o que pode acontecer amanhã e se algo de fato acontecer as pessoas se lembrarão de nós pelo que somos hoje.