5.2.11

Adrenalina

O corpo humano responde a certos eventos liberando endorfina ou adrenalina, de endorfina eu entendo até demais, me especializei em maneiras de liberar aquilo que me fazia sentir bem. O que me falta de vez em quando é coragem de pular, de entrar em cabeça em certas coisas que as pessoas achariam completamente triviais, incluindo todas aquelas que liberam adrenalina, ter coragem de dançar numa pista de dança – mesmo sabendo que se é um desastre -, ter coragem de mergulhar em uma piscina, de dizer verdades sem vírgulas ou porques, não tenho coragem nem de parar de me desculpar.

Eu me cansei de ser a “bunda mole” da história e resolvi viver um pouco, me importar um pouco menos, aqueles que se importam demais também sofrem demais, o desapego as vezes torna-se inevitável e as pessoas aprendem a não se importar pra se proteger. Por outro lado o ideal de proteção é muito abstrato, eu me fecho ao máximo, eu nego, eu evito, mas as vezes sou atraída pela adrenalina como um pedaço de metal atrai-se a um imã. Não é uma analogia referente aos meus sentimentos, mas sim as minhas ações. Mesmo sem intenção as vezes os eventos não acontecem como o planejado.

Tenho feito os mesmo caminhos que fazia há anos atrás, não é uma questão de nostalgia ou tampouco tenho intenção de regressar, jamais desejaria verdadeiramente ser como fui – errante – um dia. Por mais que eu tente evitar situações de risco, as vezes elas nos pegam desprevenidos, um golpe do destino, uma covardia de uma corporação que supostamente devia nos proteger. Eu não posso evitar de pensar que a distinção entre o certo e o errado é uma linha tênue que as vezes é ultrapassada com a desculpa de que é melhor assim.

Hoje minha amiga teve um ataque de pânico por causa da imprudência e descaso de uma viatura policial que jogou gás lacrimogênio na frente da faculdade UNIABC. A desculpa pra ter fodido temporariamente a respiração dos civis era de que eles queriam acabar com a bagunça, minha pergunta é até onde as autoridades podem interferir nas vias publicas,

ainda mais considerando de que eu e meus amigos, que estávamos na parte de cima de um bar de esquina também inalamos do mesmo jeito que os baderneiros da rua inalaram o gás que por sinal faz muito mal.

O pior de tudo é o perfil daqueles que teoricamente seriam o alvo da bomba, passamos com o carro pela rua procurando uma vaga e pudemos observar o verdadeiro inferno de Dante que é aquele lugar de sexta-feira a noite. Garotas de micro saiais em cima de carros, homens flácidos sem camisa achando-se no direito de colocar aqueles funks malditos no ultimo volume, é tudo muito bonito até que os excelentíssimos senhores policiais chegam e acabam com a festa, eles podiam pensar numa tática de alcançar o objetivo sem atingir quem nada tem a ver com a bagunça toda, mas não, moramos em um país em que não se considera o conforto da população, muito menos na rua.

A adrenalina numero dois foi na hora de tentar voltar pra casa, sim porque ao invés de fazer coisas uteis como fiscalização de motoristas bêbados, os policiais estão ocupados demais jogando bomba de gás lacrimogênio na população, a lei seca é uma prova de que tudo nesse país vira carnaval, cadê as tão temidas batidas policiais nas ruas de madrugada¿ Onde estão nossos PM’S quando alguém vem nos assaltar, onde estão eles quando um bêbado filho da puta quase bate no nosso carro ¿ a quantidade da descarga de adrenalina que eu liberei foi tão grande que minha primeira reação foi ficar estática, virei uma estatua diante de tal proximidade fatal, depois da adrenalina o corpo se acalma e libera mais endorfina, depois de ficar completamente assustada eu e meus amigos começamos a rir, foi obviamente uma reação química a nosso trauma porque não era engraçado, mas o alivio de não ter acontecido nada nos fazia rir como crianças que ganham brinquedos novos.

A sensação de adrenalina é algo realmente peculiar, meu coração dispara, meu sangue corre rápido pelas minhas veias e eu sinto vida, pra mim existem dois tipos de adrenalina, agradeço quando tenho sorte de ter a boa, que injeta uma quantidade de coragem em mim – mesmo que seja por cinco minutos – pelo menos eu tenho um pouco de progresso, queria poder ser corajosa o tempo todo e me preparar pra escorregar na cachoeira da vida, mas eu me paro, eu me atraso, alguns medos me impedem de ir até o final e de alguma forma eu sempre consigo dar um jeito de estragar tudo. Depois de uma experiência como a que eu tive hoje eu realmente comecei a pensar sobre o valor de tudo, do meu mundo, daqui em diante eu vou procurar coragem e determinação pra ir até o final em tudo e tentar dar o melhor de mim, porque a gente nunca sabe o que pode acontecer amanhã e se algo de fato acontecer as pessoas se lembrarão de nós pelo que somos hoje.

Nenhum comentário:

Postar um comentário